Como lidar com um diagnóstico de saúde difícil de cães e gatos

De tão grande o envolvimento do tutor com o seu pet, enormes também podem ser os efeitos, no humano, de um diagnóstico complicado para o animal.

É verdade que cada pessoa apresenta uma infinidade de características, qualidades e subjetividades diferentes, e, por isso, não há um padrão de comportamento esperado diante desta situação ou estratégia pronta de como lidar com ela.

“Entretanto, é comum que os tutores vivenciem sentimentos como medo da perda, tristeza, angústia, culpa, negação e não-aceitação”, diz Beatriz Sassi, psicóloga formada em zooterapia, ética e bem-estar animal.

Entendendo a reação

As reações são naturais — afinal, muitos acontecimentos inesperados provocam mudanças importantes, quebram nossas expectativas e provocam crises. Nelas, é comum haver tensão, ansiedade e indecisão.

De acordo com Joelma Ruiz, psicóloga clínica e hospitalar especialista em terapia do luto, isso acontece porque o impacto do diagnóstico ameaça a nossa segurança.

“Há contato com a mortalidade, busca de significado e a alternativa de retornar o controle e a segurança diante do processo do adoecer. O choque da informação diminui a nossa capacidade cognitiva, trazendo por vezes dificuldade de entendimento”, explica.

Ameaçados por esse contato com a mortalidade, os tutores também podem vivenciar o “luto antecipatório” — ou seja, uma reação de enlutamento mesmo que a perda não tenha ocorrido de fato.

“Podemos observar os sentimentos de choque, tristeza, raiva e culpa. Essas emoções caracterizam o luto antecipatório, o qual ocorre antes da morte e que é natural diante da nova realidade”, diz Joelma, cujo TCC foi sobre as manifestações do luto antecipatório na iminência da morte do animal de companhia.

O que faço com todos estes sentimentos?

O primeiro passo para lidar com um diagnóstico difícil, segundo as especialistas, é expressar devidamente as suas emoções, com o intuito de acolher e legitimar os sentimentos.

“É necessário evitar esconder, negar, rejeitar, reprimir ou silenciar as emoções, bem como se resguardar de comparações, autojulgamentos, autocobranças e sentimentos de culpabilidade, tendo em vista que isso pode causar um processo ainda mais doloroso e também acarretar sintomas e quadros de ansiedade e depressão”, diz Beatriz.

Também é necessário entender o processo de transição entre a vida ao lado de um pet saudável para a construção de uma nova relação com um animal doente, os cuidados que ela exige e a possibilidade da perda.

“Nesse processo, é importante prestar atenção para que a separação entre o animal e os familiares não seja precoce. A interação é essencial durante todo o processo, pois muito da esperança e da motivação para o enfrentamento da doença está no cuidado até o final da vida”, orienta Joelma.

Assim, o vínculo afetivo entre o principal cuidador e o animal é imprescindível neste momento, que pode se caracterizar pela sensibilidade exaltada, sofrimento do bicho e sentimento de responsabilidade sobre a vida do pet por parte do tutor.

“Devido a toda essa sobrecarga, é necessário que, da mesma forma que quem acolhe precisa ser acolhido, quem busca cuidado precisa ser cuidado”, diz Joelma. Ela explica que o diálogo familiar é importante em situações como estas e, a partir dele, fantasias, medos e angústias podem ser compartilhados, aliviando a dor diante da empatia.

Outra orientação é buscar a ajuda de um psicólogo, ainda que existam poucos profissionais especializados em casos de diagnóstico de doenças em pets.

“No entanto a demanda relacionada a animais domésticos tem sido crescente, causando significativo sofrimento emocional. As pessoas que passam por esse processo merecem receber um atendimento específico e qualificado”, diz Beatriz.

Tutor bem, pet tranquilo

Apesar do conflito interno e do sofrimento pelo impacto do diagnóstico, a vida continua e os familiares precisam manter o equilíbrio para conseguir cuidar do pet e garantir as necessidades de sua rotina de vida pessoal e profissional.

Por isso, deixar de olhar para si não pode ser uma opção. O autocuidado é fundamental e de extrema importância para conseguir, inclusive, ir às consultas e exames e ministrar a medicação.

“É de extrema importância para o pet que o tutor esteja bem em termos de saúde mental para poder lhe oferecer melhores condições de cuidado, assim como lhe propiciar sucesso no tratamento, recuperação e qualidade de vida”, explica Beatriz.

Sensíveis às emoções e sentimentos dos tutores, cães e gatos podem se beneficiar de uma atmosfera cuidadosa e positiva e ter impactos significativos em seu tratamento.

Caso contrário, os efeitos podem ser negativos. “Os pets também desenvolvem quadros de ansiedade e depressão e autolesão. Um exemplo disso ocorreu no período pandêmico, quando eles experimentaram medo, pânico e angústia dos tutores. Posteriormente, vivenciaram emoções de tristeza e ansiedade de separação

 com o retorno dos membros das famílias às suas atividades rotineiras”, diz a psicóloga.

Joelma defende que a rede de apoio pode facilitar o processo de aceitação e tratamento: “As conversas com os familiares são de extrema importância para manter a saúde de todos os envolvidos”.

Fonte: Vida de Bicho

POSTAGENS RELACIONADAS

plugins premium WordPress